Segunda Vida Virtual - Comparativo

Bem, agora que já conhecem as histórias (apresentadas no post anterior), podemos fazer o comparativo em si!
Comecemos com o enredo principal: a base é a mesma, certo? Jogos de MMORPG.

Em ambos Sword Art online e Log Horizon, os jogadores ficam presos no jogo, incapazes de voltar à realidade. Mas é aí que a similaridade acaba. E é por isso que não acho ser válido alguém argumentar que um é a cópia do outro. Afinal, hoje em dia, é difícil ter uma ideia inédita, aceitem isso. É o desenvolvimento dessa ideia que a faz ser única ou não.

Em SAO, a ameaça à vida dos jogadores é uma realidade muito intensa. Eles são presos e informados de que morrerão na realidade se morrerem no jogo, e que sua única saída é ganhar nos 100 níveis de dificuldade existentes. O apelo à psicopatia pelo criador do jogo é evidente, e os personagens principais são focados no objetivo único de vencer e escapar.

O mundo de Sword Art Online: uma torre flutuante rodeada por nada além de abismo.


Já em Log Horizon, não é bem assim. Os jogadores não estavam, para começar, em um jogo de realidade virtual. Era apenas um MMORPG comum, nas telas de seus computadores, um mundo antes intangível dentro do qual suas consciências foram de repente presas para viver em seus avatares. Ao contrário de SAO, não há explicação. Os personagens não morrem, apenas perdem EXP e retornam para a catedral, como no jogo. Eles estão encurralados, sem um objetivo, uma explicação, ou uma perspectiva de saída. Os personagens principais focam em viver de forma feliz, criando um mundo harmonioso.

Nas duas histórias, uma mesma ideia tomou rumos diferentes, embora ambas tenham sido levadas a um clima de desespero para que o enredo se contextualizasse. E foi por isso que inseri Half Prince nesse comparativo.
Ao contrário dos outros dois, neste enredo ninguém é forçado a ficar no jogo. A história originalmente é de camaradagem e comédia, mostrando as aventuras do time Odd Squad no mundo de Second Life. Surge uma ameaça posteriormente, não aos jogadores, mas, desta vez, aos avatares. A determinação é de lutar para não perderem o mundo onde viveram tantas experiências preciosas com os amigos.

**Uma curiosidade interessante que eu acho o máximo: em “Second Life” os avatares podem ser ents, e há uma luta engraçadíssima do Odd Squad contra um time de ents num torneio. Os ents mandam muito bem, acreditem!**

Na esquerda, a aparição dos ents; na direita, Odd Squad começando a apanhar!
(Volume 2, capítulo 10, páginas 121v e 124, respectivamente)

Agora, com relação aos personagens principais, há uma característica óbvia tanto no Kirito (SAO) quanto no Shiroe (Log Horizon): ambos já começam a história fortes e invencíveis. A desculpa é de um ter jogado a versão beta do jogo, e o outro jogar há anos, sendo um dos jogadores lendários no RPG.

O pequeno Kirito lutando contra um dos chefes de nível.

Já em Half Prince, há uma mudança agradável quanto a esse aspecto: Feng Lan é praticamente uma novata; a história começa junto à sua conta no jogo, e sua experiência em RPGs antes disso era fraca. Assim, acompanhamos o desenvolvimento de seu avatar, aprendendo a jogar e ficando forte aos poucos, mostrando talento e descobrindo que gosta daquele novo passatempo, que passa a ser um importante mundo onde estão seus amigos virtuais.
Esse foi um diferencial que me agradou muito, que se destacou das histórias já aprofundadas e avançadas desde o início. Não que isso seja algo ruim, mas foi bom ver algo assim para variar.

Outras reflexões podem ser feitas com base nas três produções:

Enquanto em SAO não há mudanças no mundo do jogo em si com exceção à capacidade de se reviver após a derrota, o mesmo não acontece nos outros dois mundos.

Em Log Horizon, além da mudança óbvia de experiência em tela para realidade tridimensional, o mundo e as regras do jogo se encontram alterados. Ainda há restrições a comportamentos violentos como o PK (player killing – matar jogadores) em áreas de cidade, mas não existe mais teletransporte, a comida feita através de comandos do jogo não tem gosto de nada e os golpes também não são mais realizados por comandos, apesar de as telas aparecerem para os jogadores.

O menu de opções do inventário em Elder Tale.

A comida precisa ser feita como no mundo real para ter gosto bom, e os golpes precisam ser feitos por movimentos corporais. Os NPCs são outra mudança grande: mostram ter personalidade, quando antes apenas ofereciam quests.
Todas essas mudanças levam à descoberta incrível de que o mundo de Elder Tale já existia antes de ser um jogo, e que existe magia nele.

Em Half Prince, a mudança é focada inteiramente nos NPCs, que já eram desenvolvidos com inteligência artificial e personalidades, mas que adquirem consciência verdadeira e passam a alterar o funcionamento do jogo para torná-lo um mundo somente seu. Essa consciência é, inclusive, alvo de suspeitas de algo mais sinistro, envolvendo mentes presas ao jogo e aos NPCs.

Sim,você ESTÁ vendo uma ostra gigante (NPC)
revelando a identidade daquele que está por trás de toda a trama!

Mas mesmo assim, o clima não é pesado. Em nenhuma das histórias. Este é o grande ponto em comum. Não sei se alguém aí conhece Half Prince pra opinar, mas provavelmente conhecem os outros dois, então me digam: só eu acho estranho? xD

Em SAO, apesar dos momentos pesados do início, quando o problema é apresentado, o seguimento (pelo menos do anime) é levinho, pulando já para um Kirito de personagem incrivelmente forte fazendo amizades e vivendo de forma um tanto pacata, e demora até que haja ação novamente. Tudo isso empresta um aspecto de vidinha simples e feliz, e o otimismo é a característica carismática do personagem.

Em Log Horizon, o desespero dos jogadores é mostrado de forma rápida e como pano de fundo, sendo o foco no personagem Shiroe, que aceita tudo e está cercado de pessoas otimistas. Assim, o desenvolvimento se baseia na aceitação daquele mundo como realidade e na transformação do caos que se instaurou (longe dos olhos do espectador, aparentemente) em uma sociedade civilizada e com motivos para viver. Ação e um gostinho do desespero aparecem apenas em alguns momentos, intercalados pelo desenvolvimento dos planos de Shiroe, em sua maioria envolvendo política e comercialização.

O cenário de Elder Tale é baseado no nosso mundo, numa forma um tanto pós-apocalíptica,
mas em proporções de área menores.

Em Half Prince, não há razão real para desespero, então até aí, tudo bem. E a comédia rola solta, inclusive apelona, por vezes. Esta é a única história que mostra melhor o desenvolvimento da personagem, à medida que fica forte e famosa. Incrivelmente, é nessa história que ocorrem as lutas mais sangrentas: Feng Lan adquire para seu avatar o apelido de “Elfo Sangrento”, por lutar violentamente, estripando seus inimigos. Ah, e aqui cabe falar de outro diferencial: em Second Life, os jogadores SENTEM DOR. Em níveis bem mais baixos, logicamente, mas sentem o estímulo doloroso dos ataques que receberem.
Portanto, o jogo com o menor dos problemas dentre os três é o mais violento. Que coisa, não?

Wallpaper com a imagem de Prince banhado em sangue dos seus inimigos.

Mas isso não impede o história de ser ótima. Half Prince é uma excelente comédia, na qual a jovem Feng Lan sua para esconder de todos sua identidade no jogo. Recomendo para aqueles que adoram uma comédia envolvente. Mas já deixo avisado: não há (ou pelo menos não encontrei, infelizmente) scans de todo o manhwa.

Sword Art Online, por sua vez, é o mais perigoso para seus personagens… e o que eu menos gosto (fãs, não me crucifiquem). Não que a história seja ruim, o que de fato não é, ao analisarmos seu enredo percebemos que foi uma grande ideia; no entanto, o início desesperador me deixou na expectativa de um desenvolvimento mais sério, e a atmosfera feliz e romântica dentro do jogo me decepcionou bastante. Para aqueles que preferem uma história mais leve, eu recomendo. As longas passagens felizes contrapõem ao enredo originalmente pesado.

Kirito de boas dormindo na grama.
Asuna também acha isso estranho, não sou só eu :)
Log Horizon, na minha opinião, é excelente, levando o enredo-base por um caminho bem diferente: a possibilidade da existência de um mundo paralelo que se conectou à realidade. Algumas visões apresentadas pelo personagem Shiroe são incrivelmente filosóficas também, nos fornecendo com perspectivas diferentes para encarar a situação. Recomendo para quem gosta de raciocínio lógico, uma comédia leve e aventuras com reviravoltas e possibilidades mágicas.

Fica claro, ao vermos dessa forma, que uma mesma inspiração fez com que pessoas diferentes conduzissem histórias por caminhos distintos, sem necessariamente serem uma cópia de outro trabalho. As opções de cada um tornaram suas criações únicas e interessantes à sua maneira.


É dessa forma que concluo meu comparativo/ texto-gigantesco-pra-car  review.
Eu gostaria que vocês, leitores, vissem cada uma dessas produções como individuais. Espero ter conseguido despertar seu interesse e, quem sabe, vocês venham a concordar com a minha opinião, mesmo que um pouquinho.
E assim, encerro esse post, na esperança de que alguém pegue a dica de que fazer uma história com a mesma base e com um desenvolvimento mais pesado daria certo... :)

Até a próxima!




~GLOSSÁRIO:

*ents = Plural de "ent", refere-se a entidades da natureza com capacidade de fala e poderes. Costumam ser árvores, mas o termo pode se referir a qualquer elemento natural, como água, vento, rocha, grama, flores...

*EXP = Sigla para "experiêcia", conquistada em pontos e níveis nos jogos.

*MMORPG = Massively Multiplayer Online Role-Playing Game; é um gênero de jogos, tanto de consoles quanto de computador, no qual uma grande quantidade de jogadores interagem em um mundo virtual simultaneamente, através de conexão via internet.

*NPC = "Non-player characters", são os personagens presentes nos jogos que não são jogadores, sendo parte do jogo em si e, geralmente, possuem a função de fornecer itens, realizar trocas ou pedir quests (missões) aos jogadores.

*PK = Player Killing, como já explicado no texto, refere-se ao ato de jogadores matarem outros jogadores. É normalmente um ato não aceitável em muitos jogos, sendo controlado por moderadores ou administradores.

*RPG = Role Playing Game; é um jogo no qual os participantes assumem o papel de personagens em um cenário ficcional. Há muitas variações de RPG, incluindo o original de tabuleiro ("tabletop RPG") e o MMORPG, as formas mais populares.

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